quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Autismo

As Perturbações do Espectro do Autismo (PEA), susceptíveis de serem classificadas como Perturbações Pervasivas do Desenvolvimento (PPD), são perturbações crónicas, que se manifestam primordialmente pelas dificuldades interactivas do sujeito (Marques, 2000). Segundo Ozonoff, Rogers & Hendren (2003, p.27) “…como especifica o DSM – IV – TR (American Psychiatric Association, 2002), as PEA envolvem limitações das relações sociais, da comunicação verbal e não verbal e da variedade dos interesses e comportamentos”.

Torna-se, assim claro, que o autismo não é uma doença única, mas sim um distúrbio do desenvolvimento complexo, definido de um ponto de vista comportamental, com etiologias múltiplas e graus variados de severidade.
Sendo uma perturbação do desenvolvimento psicológico, afecta directamente a forma como as pessoas percebem as emoções, as expressões e as acções e caracteriza-se essencialmente por três grupos de comportamentos com expressões diversas: disfunções sensoriais, perturbações na comunicação e no jogo imaginativo, interesses e actividades restritas e repetitivas.
Uma vez que o quadro clínico do autismo apresenta variadas vertentes, Wing (1996) propôs a noção de Espectro do Autismo, reconhecendo que existe um núcleo central de patologias com uma intensidade e severidade variável. O conjunto que engloba o distúrbio autista (autismo clássico ou de Kanner) e os restantes estados autísticos, passaram a ser designados por “Perturbações do Espectro do Autismo” ou “contínuo autista” (Steffeenburg & Gillberg, 1986, citado por Marques, 2000).
Esta terminologia permite diferenciar as PEA em:

   - Autismo clássico ou Autismo Infantil ou Distúrbio Autista;
   - Síndrome de Asperger.

No entendimento de Rivière (2001), a noção de Espectro Autista, que se pode associar a diversas classes de alterações, pode ser muito útil quer do ponto de vista clínico quer do ponto de vista educativo. Também, segundo Ozonoff, Rogers & Hendren (2003), “a compreensão da grande variedade das manifestações das perturbações do espectro do autismo é extremamente importante no processo de avaliação” (op. cit., p.38).

Actualmente, o termo Perturbações do Espectro do Autismo (PEA) é usado como sinónimo de autismo, “referindo-se a uma condição clínica, que se manifesta como um contínuo de gravidade de alterações clínicas, linguísticas e neurocomportamentais. Estas incluem a tríade nuclear de défice na interacção social, na comunicação e um padrão de comportamento que é restritivo e repetitivo” (Oliveira, 2006, p.21).

2 comentários:

  1. Olá prof Nelson,
    passeando-me há 2 dias aqui pelo seu blog, felicito a sua existencia e na minha modesta opinião o que aqui nos transmite é uma tremenda dedicação a todas as crianças que de alguma forma necessitam de mais "atenção". (Continue por favor, porque precisamos de pessoas como o Nelson)!
    Após visita ao espaço "Incluso", aqui estou para atender o mais prontamente possivel ao seu pedido, num pequeno texto mais emocional que técnico, mas que exprime um poucos dos meus sentimentos sobre o tema. Muito mais haveria para dizer deste desconcertante mas igualmente fascinante mundo, que é o autismo, por isso, conte comigo por aqui mais vezes...

    "Mais alto que as palavras" - é o titulo de mais um livro que acabeí de ler, sobre a temática do autismo. Tenho lido práticamente todos os que vêm ao meu conhecimento. Uns mais técnicos, outros puras histórias de vida, como a minha... como a deste livro.
    Não me apetece hoje divagar muito sobre o assunto, apenas dizer que na coíncidência de caminhos semelhantes, encontramos muitas vezes uma espécie de conforto que nos abraça, talvez porque lemos a história numa lingua que conhecemos tão bem.
    O reverso da medalha, é que por momentos volto a um passado doloroso que me faz recordar os momentos tremendamente dificeis por que passa quem tem a bater à porta um senhor completamente desconhecido e imprevisto, chamado autismo, que nos arrebata e agarra todo o corpo com uma força indiscrítivel quase como que esmagando-nos até ao mais profundo do nosso ser! Não, não é o fim, como imagina muita gente... antes pelo contrário, é o início de um caminho extraordináriamente complicado que não nos deixa sequer margem para o sofrimento que necessáriamente deveríamos ter direito a poder gozar... Mas não há tempo para isso, todo o nosso tempo se ocupa em travar a batalha com ele e com toda uma sociedade, que nos rodeia na mais completa ignorância e desinteresse,(ressalvo sempre as excepções, mas disso falareí noutra altura).

    "... Oiça, ele poderá nunca dizer uma palavra..."
    Entre as muitas coisas que ouvi, esta foi a que me trespassou completamente o ser e me deixou por terra durante 2 anos... Muitos dias e noites à espera que a "tese" fosse errada. Para muitos este é apenas mais um pormenor, mas para mim era indicador de uma fragilidade muito maior! Felizmente a espera terminou e o meu menino venceu esse "pormenor" e começou, entre muitas outras palavras a chamar-me mamâ...

    Trago comigo muitos epísódios que ficaram gravados, e que temo não se apaguem tão cedo da minha memória! Ninguém está minimamente preparado para tão dura batalha, mas estas histórias também são feitas de pessoas que resistem, evoluem e crescem de forma muito especial. Poucos compreenderão, mas à medida que o tempo passa sinto-me de facto especial e penso que provavelmente estes pais especiais que somos todos nós no Universo autista, foram escolhidos a dedo porque em cada história que leio, o que sobressaí sempre é uma força quase sobrenatural com a qual vamos vivendo o nosso dia-a-dia.

    Grande abraço de amizade e considerção por si... Foi com pessoas como o professor Nelson que sobrevivemos na altura à "ecatombe" e que significam ainda hoje, a mais importante esperança de evolução nas capacidades do nosso filho, e o nosso maior apoio no dia-a-dia. Enquanto a ciencia procura respostas, a educação actua diáriamente para ir ultrapassando barreiras e conduzindo estas crianças a uma melhoria efectiva das suas habilidades.

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  2. Obrigado Cristina pelas suas palavras, pelo seu testemunho, pela sua dedicação...

    Não precisa de me pedir por favor para continuar, desempenho este papel na sociedade com o maior dos prazeres e considero-me um felizardo por poder trabalhar com crianças e pais que para mim serão um exemplo a seguir.

    E quase que me atrevo a dizer que a Cristina e o seu filho não sobreviveram...VIVERAM e aproveitaram a oportunidade para construírem um desenvolvimento sustentável...

    Grande abraço, obr5igado por tudo e coloco-me sempre à sua disposição.

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