quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Birras - como reagir?

"Transforme a birra numa prova de amor e faça o seu filho dar mais um passo em frente para a idade adulta. 

A maioria das crianças entre os 18 meses e os 4 anos têm aquelas birras quase incontroláveis que deixam os seus pais sem saber como agir. Quem não teve que enfrentar uma birra do filho em plena rua ou no supermercado ou no jantar com os colegas do trabalho? O local e o momento não poderiam ser mais inconvenientes, mas nesta fase as crianças testam ao máximo os limites dos seus pais.

A birra resulta da percepção que a criança tem de si como ser individualizado com vontades, mas que ainda não entende que para viver em sociedade tem que ceder. Esta fase da 'afirmação do eu' faz parte do crescimento normal da criança, da conquista de uma identidade própria. Trata-se de um conflito no interior da criança entre a procura da autonomia e a dependência dos pais. É, por isso, um claro sinal de crescimento. E é nestes momentos que muitos pais se questionam sobre as suas capacidades educativas. A maior dificuldade que os pais enfrentam é a de conciliar a compreensão, que visa proporcionar as trocas afectivas de que ela necessita, com a necessária firmeza.

Em primeiro lugar, não se oponha se não tiver a certeza que será capaz de ir até ao fim. Se decidir enfrentar a birra, terá que agir com calma e firmeza. Firmeza não implica ser agressivo, muito pelo contrário. Alie a firmeza à suavidade.

Nesta fase, torna-se muito importante que os pais aprendam a não ter receio de dizer 'não', deixando bem claro que o amor que sentem pelos filhos é incondicional. A disciplina é também uma forma de amor. Pratique-a sem ignorar os gostos da criança. Não necessita de se tornar um general. A disciplina é, depois do amor, o mais importante que se pode dar a uma criança. Explique sempre a razão do 'não': 'não, porque te podes magoar ou magoar os outros ou estragar o brinquedo...' Expresse empatia e mostre-lhe que compreende perfeitamente o que ela está a sentir: 'Quando era pequena, a avó também não me deixava comer todos os doces que eu queria e eu ficava muito triste. Acontece que se comeres os doces todos vais ficar com uma grande dor de barriga, e a mamã gosta muito de ti e não quer que te doa a barriguinha.' Toque no seu filho numa tentativa de o reconfortar: afague os seus cabelos ou abrace-o. É preciso que você o ensine que as birras não farão mudar a opinião dos pais e que o seu amor por ele não se alterará. Após a birra, felicite-a por se ter decidido pelo bom comportamento.

Se mesmo assim não resultar, ignore-a por alguns minutos e continue o seu percurso. Muitas birras terminam quando as crianças deixam de ter público. É claro que nem sempre é possível - se, por exemplo, o fizer na via pública, poderá mesmo tornar-se perigoso. Neste caso, será preferível conduzi-la pela sua mão e avisá-la que mais tarde será penalizada. As penas deverão ser adequadas à idade da criança e mantidas até ao fim.

No caso das birras ao deitar, repare se o ambiente não é demasiado ruidoso. Leve-o para o quarto pela mão e conte-lhe uma história. As birras são também frequentes nas horas da refeição. Não insista ou valorize de mais a situação. Quando o seu filho tiver fome, com certeza vai comer tudo num ápice. Numa atitude de despero pode sentir-se tentado a oferecer alimentos mais atraentes mas evite cair em tentação.

A birra também permiteà criança lidar com os seus sentimentos e a auto-controlar-se. Incentive-a a fazê-lo com os seus próprios recursos. Aprender que tudo tem limites abre caminho para um convívio saudável com os outros e para uma boa integração na sociedade. As regras são fundamentais.

Só com firmeza as crianças aprendem a respeitar as regras propostas pelos pais. No mundo em que vivemos, que se rege por regras, o melhor é aprender a aceitá-las logo desde pequenino."

De: Susana Nunes, interna complementar de Pediatria


Junto um filme disponível no youtube, onde é possível ver um bebé a "fazer birra".

5 comentários:

  1. Isto é que é uma senhora birra!!! E o "malandro" procura mesmo plateia! Isto as crianças são terríveis...
    Abraço

    ResponderEliminar
  2. Senhora birra mesmo Cristina:)
    Este é uma criança que está com o futuro planeado...ser actor:)...
    Bjs

    ResponderEliminar
  3. Que dicas maravilhosas e sábias!
    Sou apologista destas dicas. Há que saber ser firme, sem austeridade. Há que saber explicar, sempre, porque que é que as coisas não podem ser como os nossos filhos queriam e desejavam. Só através do diálogo, se consegue comunicar e obter frutos dessa comunicação.

    Bem-hajam.
    Um abraço.
    Isabel Barbosa

    ResponderEliminar
  4. Boa Noite Isabel!
    Concordo plenamente...o diálogo move mundos, porque não promover cada vez mais o diálogo entre pais e filhos...entre professores e alunos, sim porque não são apenas as famílias que falham, também são os professores que não promovem o diálogo, a socialização, o respeito pelas diferenças...entre outras coisas...E ainda bem que existem excepções...Mas tudo isto para dizer que não são só os pais que têm de aprender algo com estas dicas...Somos todos nós.

    Abraço

    ResponderEliminar
  5. Depois do que foi dito...pouco mais há a dizer, só que concordo contigo Nelson. O diálogo por vezes falta nas familias o que é uma pena. Se enquanto crianças os pais não o promovem, na adolescência nada feito! Quanto aos professores não é uma pena, é um erro craso, somos nós por excelência PROFISSIONAIS que o devíamos priveligiar e nem sempre infelizmente o fomentamos.
    Abraço
    Elvira

    ResponderEliminar