segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Perturbações do sono: Automedicação não é solução

Dormir ajuda a travar doenças

Passamos cerca de um terço da nossa vida a dormir, e a perturbação da qualidade do sono pode ter efeitos nocivos na saúde. Noites mal dormidas podem levar a diabetes, obesidade, falhas de memória, aumento da hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Tudo isto com repercussões intensas na qualidade de vida da pessoa.

Martins da Silva, responsável pela consulta de perturbações do sono do Hospital de Santo António, no Porto, refere que há três grandes motivos para que os doentes procurem ajuda: insónias; hipersónia (excesso de sono) e anomalias que acontecem durante o sono.

Os tratamentos são variáveis. "Temos uma consulta multidisciplinar: médicos de fisiologia, otorrino e pneumologia. Se o quadro for, por exemplo, de apneia, decidimos entre uma máscara ou outro tratamento. Podemos ir apenas pelo controlo do peso", explica ainda o especialista.

Se o caso é de insónia, a opção passa por fazer uma abordagem psiquiátrica. "Noutras situações, em que se trate de uma questão de turnos, temos de entrar em contacto com a entidade patronal para que percebam que determinado indivíduo não pode trabalhar à noite. Nem sempre é fácil", admite.

Muitos dos que têm problemas em dormir optam pela automedicação. Uma má opção, segundo Martins da Silva. "Não é boa, porque não sendo necessária cria dependência. O ideal é optar por um fármaco que permita fazer depois o desmame num mês." Os medicamentos ajudam a criar um equilíbrio, mas "é preciso que os factores que retiram o sono sejam eliminados".

A mudança de local de residência, de escola para os jovens ou de turnos pode influenciar profundamente os ciclos de sono.

PORMENORES

MUDAR DE CASA

Martins da Silva acompanhou uma paciente cuja mudança de casa, para um local junto a um pavilhão desportivo, perturbou a qualidade do sono.

MEMÓRIA

O sono pode ser inibidor da realização de tarefas e diminui a memória. Nos casos de incapacidade total, há casos-fronteira entre a consulta do sono e a psiquiatria.

DEZ MINUTOS

Para regular o sono a quem trabalha por turnos o especialista recomenda antecipar a hora de deitar dez minutos em cada dia. O reequilíbrio demora meses.

DISCURSO DIRECTO

"A RESTRIÇÃO DO SONO PODE SER DRAMÁTICA", Martins da Silva, Consulta do Sono, Hosp. Santo António

Correio da Manhã – O que é a perturbação do sono?

Martins da Silva – Uma noite mal dormida não é uma patologia do sono. Só se pode definir enquanto tal quando o sono é de tal forma modificado que altera o comportamento biológico do indivíduo.

– Quando começaram a ser descritos os distúrbios durante o repouso?

– Os problemas de sono são descritos no princípio do século XX, em que surgiram alterações cerebrais e físicas, na sequência de infecções víricas comuns que simulavam gripes. Estas levavam a lesões cerebrais, responsáveis pela zona que controla o sono.

– Quais são as causas?

– Diversas. Nos EUA, mais de 60 por cento dos casos são psicogenéticos vários. Por exemplo, a insónia familiar pode ser fatal, mas é raríssimo e nunca seguimos aqui nenhum caso.

– Há um limite mínimo de horas de sono ?

– A restrição do sono pode ser dramática. Até quatro horas de descanso pode motivar o aparecimento de várias doenças. Entre as quatro e as seis horas de sono, em algumas pessoas, pode levar exactamente às mesmas consequências.

O MEU CASO: MANUEL OLIVEIRA

"NÃO ME LEMBRAVA DO QUE FAZIA NEM PARA ONDE IA"

Foram vinte anos a trabalhar das 20h00 às 08h00. Doze horas de noite em que não pregava olho. Podia dormir de dia, mas Manuel Oliveira, agora com 56 anos, pouco passava pela cama. "Duas a três horas, no máximo", confessa ao Correio da Manhã. À actividade como funcionário hospitalar juntava a labuta no campo.

"Não parava, até porque tinha os meus três filhos na escola. Depois não conseguia adormecer. Houve mesmo uma altura em que não me lembrava do que fazia nem para onde ia. Funcionava como uma espécie de amnésia", conta.

Os períodos de sonolência eram frequentes ao longo do dia. Não conseguia controlar o período de vigília, onde quer que estivesse. "No café, os olhos caíam-me. Às vezes até durante o trabalho isso me acontecia", diz. "Estive mesmo à beira do esgotamento", acrescenta Manuel Oliveira.

Começou a ser seguido na consulta do sono e as consequências foram visíveis. A solução para Manuel passou pela alteração dos turnos laborais. "Com a ajuda do médico foi possível passar a trabalhar durante o dia", afirma.

Actualmente está muito melhor. Já dorme de noite e sente que "vive com mais qualidade. "Já não tenho aquele sono intranquilo, o que é óptimo", assume.

PERFIL

Manuel Oliveira, de 56 anos, é natural de Gondomare trabalha como funcionário hospitalar há mais de 30 anos. Tem também um campo de cultivo em que frequentemente trabalha. Tem três filhose vive agora com menos problemas em descansar.

PARALISIA ENQUANTO SE DORME

A paralisia do sono é um fenómeno raro mas cuja experiência pode ser aterradora. As regiões do nosso cérebro que regulam a vigília controlam também a actividade muscular. "Há um desfasamento entre o período em que estão em vigília e a fase em que se dá inicio à actividade motora. Estamos a falar de poucos segundos, e depois desaparece. Os sintomas são é majorados devido à ansiedade", diz Martins da Silva.

PRIVAÇÃO DO SONO

A privação do sono é um dos métodos mais famosos das polícias políticas para conseguirem confissões dos detidos.

OBESIDADE E CAUSA

A obesidade é um dos factores que mais influenciamos problemas em dormir, principalmente a apneia do sono.

MILHARES DE DOENTES

Desde que abriu, em 1987,a consulta do Hospitalde Santo António, no Porto,já teve milhares de doentes.

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