terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Doentes exigem novo fármaco para a "doença dos pezinhos"

Há um fármaco capaz de travar a progressão da paramiloidose, vulgarmente conhecida como doença dos pezinhos. Em França, já está a ser usado desde Janeiro. Em Portugal, os doentes exigem o medicamento, capaz de evitar o transplante hepático, "já!".

"Há vidas em risco. Exigimos o medicamento já. Estamos há um ano a lutar por isto. Estes doentes não têm tempo para esperar mais", afirmou, ao JN, o presidente da Associação Portuguesa de Paramiloidose (APP), Carlos Figueiras, "farto de lutar", sem sucesso, junto do Ministério da Saúde, pela introdução imediata do medicamento em Portugal.

Entre 2007 e 2009, um ensaio clínico internacional, envolveu, em Portugal, 78 doentes dos hospitais de Santa Maria, em Lisboa, e de Santo António, no Porto. Parte dos doentes tomaram um produto inactivo (placebo) e os restantes o Tafamidis, sem que doentes e médicos soubessem quais tomaram o quê. 
Nos 47 paramiloidóticos a tomar Tafamidis, o fármaco mostrou ser capaz de travar a progressão da doença dos pezinhos, até agora apenas possível com o transplante hepático.
"É um passo muito importante. O Tafamidis não tem efeitos secundários significativos e, em 60% dos casos, travou a progressão da doença e, entre os 40% restantes, a progressão foi muito menor", explicou, ao JN, Teresa Coelho, responsável da Unidade Clínica de Paramiloidose (UCP) do Hospital de Santo António.

O fármaco, baseado na molécula FX-1006 A (o nome pelo qual, inicialmente, ficou conhecido), foi desenvolvido por uma empresa farmacêutica norte-americana. É um comprido, de toma diária, que, diz Carlos Figueiras, abre uma nova esperança no combate à doença neurológica, hereditária, incurável, progressiva e altamente incapacitante.
Desde os primeiros ensaios, o Tafamidis aguarda ainda a validação por parte das autoridades do medicamento, quer a nível nacional - o Infarmed -, quer europeu - a EMEA (Agência Europeia do Medicamento). 
Ainda assim, e embora ainda sem se conhecerem os efeitos de uma toma prolongada, a França abriu um regime de excepção e está a ministrar o fármaco aos seus doentes - entre os quais vários luso-descendentes - nas farmácias hospitalares.

Em Portugal, os doentes estão dispostos a assumir os riscos e exigem ser tratados de forma igual, mas o Ministério da Saúde não avança sem garantias.
"Antes de qualquer decisão, temos que estar protegidos pela garantia das agências internacionais", afirmou, ao JN, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Pizarro, recusando avançar sem garantias da EMEA.

"Há estudos sobre o Tafamidis que parecem evidenciar vantagens para os doentes que tomam a medicação. Em todo o caso, o processo ainda está em avaliação em matéria de eficácia e de segurança. Seria manipular a óbvia motivação dos doentes para tomar uma medicação que parece ter resultados muito interessantes, sem termos absoluta garantia da eficácia, mas mais ainda da segurança", frisou ainda.

In: JN online

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