quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aumentam os pedidos de ajuda para perturbações emocionais das crianças

Associação de Psiquiatria da Infância e da Adolescência debate em Gaia sintomas do mal-estar psicológico das crianças e adolescentes.

Hiperactividade, tristeza, ansiedade, depressão e problemas do comportamento alimentar são algumas das perturbações que levam cada vez mais crianças e adolescentes aos consultórios dos psicólogos e dos médicos pedopsiquiatras. Os pedidos de ajuda vêm das famílias e das escolas, de pais e de educadores alarmados com o mal-estar das crianças manifestado por aquelas alterações do comportamento. 

Segundo a Sociedade Americana de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, dez a 20 por cento das crianças têm um ou mais problemas psiquiátricos, mas apenas um quinto recebe tratamento adequado. 

Por trás destas situações estão, muitas vezes, "famílias disfuncionais que não conseguem ajudar as suas crianças" e isso é o que mais preocupa a médica pedopsiquiatra Graça Mendes, responsável pela unidade de Pedopsiquiatria do Serviço de Psiquiatria e de Saúde Mental de Gaia/Espinho, que organiza até sexta-feira o XXII Encontro Nacional de Psiquiatria da Infância e Adolescência.

Como tratar estas perturbações emocionais que afectam um número crescente de crianças e de adolescentes? O recurso aos medicamentos tem-se tornado cada vez mais frequente, admite Graça Mendes, em declarações ao PÚBLICO. Mas a opção de "drogar" o sofrimento dos mais novos não é consensual entre os especialistas de saúde mental. Em discussão neste encontro, que reúne psiquiatras e psicólogos de todo o país, vão estar os desafios e controvérsias nas abordagens terapêuticas em Pedopsiquiatria.

As tentativas de suicídio por parte de um número crescente de jovens são outro dos temas em debate. Os dados do Instituto Nacional de Estatística indicam que, em 2009, ocorreu quase o dobro de suicídios de adolescentes relativamente a 2006, ano em que se registaram oito casos. A maioria das tentativas verifica-se em raparigas e é geralmente motivada por crises na relação com familiares, namorados ou amigos, bem como por conflitos no meio escolar, referem os mesmos dados.

A maior parte dos adolescentes que deram entrada em Gaia por tentativa de suicídio através de ingestão de medicamentos tinha entre 15 e 16 anos, esclarece Graça Mendes. O aumento destes casos levou, aliás, à abertura recente da Unidade de Hospitalização Parcial da Infância e Adolescência na unidade de Pedopsiquiatria de Gaia, precisamente com objectivo de dar resposta às situações de crise de cariz agudo que necessitem de uma intervenção terapêutica urgente e intensiva. 

Graça Mendes chama também a atenção para o facto de existirem "muitas zonas do país onde não há Pedopsiquiatria" e as crianças com perturbações emocionais não terem "acesso facilitado" às consultas.

Os especialistas presentes no encontro vão debater também a importância do diagnóstico precoce e do tratamento da depressão infantil, cujo diagnóstico tem aumentado junto das crianças. Falarão ainda da importância de envolver os pais e a escola nas terapias. A psicoterapia mãe-bebé é o tema da conferência da pedopsiquiatra e psicanalista Maria José Gonçalves, que falará sobre a importância da relação precoce no desenvolvimento da criança.

Pressão escolar

A pressão para os bons resultados escolares no final dos anos lectivos é, muitas vezes, um dos motivos da ansiedade e depressão que leva muitas crianças e jovens às consultas de Psiquiatria, diz Graça Mendes ao PÚBLICO. "Muitas vezes, os pais projectam nas crianças o que eles próprios desejam para eles e exercem uma pressão sobre elas que acaba por se revelar prejudicial", diz a médica, chamando a atenção para o facto de, muitas vezes, os objectivos dos adolescentes "não estarem de acordo com os dos pais" e para a necessidade de respeitar isso e, sobretudo, de dialogar.

2 comentários:

  1. Compartilhado,muito bom!Precisamos divulgar e discutir mais essas questões na sociedade.Abraço fraterno.

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  2. A Pressão escolar não é necessariamente imposta pelos pais... Também a falta de perspectivas futuras leva os jovens à depressão... um abraço

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