quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Problemas do pé na infância

A principal função do pé é proporcionar apoio ao nosso corpo e contacto com a superfície. 

Nos primeiros anos de vida, é constituído por uma estrutura flexível que ainda não desenvolveu a força e maturidade necessárias para suportar carga. 

De um modo geral, a marcha tem início por volta dos 12 meses e com ela vem um infindável número de preocupações para os pais. Muitas das alterações dos pés nesta faixa etária são fisiológicas, daí a importância de uma avaliação rigorosa e um aconselhamento e orientação adequada. Em caso de dúvida consulte o seu Médico de família ou pediatra. 

Nas crianças que ainda não iniciaram a marcha, a diferença entre alterações posturais ou deformidades pode ser difícil. A alteração postural é a posição habitual na qual o lactente mantém o pé, no entanto, este mantém a amplitude de movimentos normal quando é mobilizado passivamente. A deformidade produz uma aparência semelhante à da alteração postural, no entanto, a mobilidade é restrita. A maioria das alterações pediátricas dos pés é indolor. 

As deformidades do pé devido à sua constituição anatómica podem ser difíceis de definir pela sua multiplicidade e interligação. 

Neste artigo iremos abordar as mais frequentes na idade pediátrica. 

Pé valgo (ou pé plano) 
O pé valgo ou pé plano constitui a alteração da forma do pé mais frequentemente encontrada. Consiste na ausência da arcada longitudinal interna, ou seja, o bordo medial (parte de dentro) do pé assenta completamente no solo. Na maioria dos casos é uma situação irrelevante, podendo constituir um estádio mais ou menos evidente do desenvolvimento normal da criança. 

Assim, desde o início da marcha até cerca dos 3 anos de idade este tipo de pé é observado com muita frequência, considerando-se normal nesta faixa etária. 

Existem vários tipos, sendo o mais frequente (98%) o "pé plano laxo infantil", cujo tratamento é conservador. 

Nos pés mais "rígidos" poderá ser necessária a investigação da causa, que pode ser um defeito congénito do próprio pé ou consequência de patologia neurológica (ex., paralisia cerebral), devendo ser avaliados por um ortopedista. 

Para além da aparência inestética, da deformação e do desgaste do calçado, os pés planos flexíveis são assintomáticos, permanecendo indolores. Todo o pé plano doloroso deverá ser avaliado por um ortopedista. 

Se o seu filho tiver o pé plano é aconselhável deixá-lo andar descalço, andar sobre a areia e usar calçado confortável e flexível. Não está aconselhado o uso de palmilhas ou calçado ortopédico. 

Pé cavo 
O pé cavo é um pé com curvatura plantar exagerada, sobretudo à custa da arcada longitudinal interna, mas também da arcada longitudinal externa nos casos mais graves. Como consequência há um encurtamento do comprimento do pé, proeminência da região dorsal ("peito do pé") e dedos em garra. O apoio plantar faz-se numa área mais restrita que o normal provocando o rápido e persistente aparecimento de calosidades e dores, deformação do calçado e dificuldades na marcha. O seu aparecimento e evolução são em geral lentos, necessitando de uma avaliação clínica precoce. Apesar de existirem formas fisiológicas, o pé cavo deve ser sempre considerado patológico até prova em contrário, podendo constituir um sinal precoce de patologia neurológica, pelo que deve ser avaliado por um ortopedista. 

Pé boto (ou pé equinovaro adulto congénito ) 
O pé boto, também conhecido com "pé torto" em linguagem popular, representa a mais frequente anomalia congénita do pé, sendo bilateral em cerca de 50% dos casos. A sua causa é desconhecida, mas admite-se que pode ser devido a vários fatores (hereditários, posturais intrauterinos, neuromusculares...). 

É uma deformidade complexa em que o pé está rodado, com as plantas voltadas para a linha média ("para dentro"). Esta posição anormal do pé leva a alterações dos tecidos moles, espessamento dos ligamentos e atrofias musculares, o que impede o normal desenvolvimento do esqueleto respetivo, com fixação e agravamento das deformidades. 

Quando a criança inicia a marcha esta torna-se difícil, com aparecimento de calosidades nas zonas de apoio e dores. 

O pé boto pode ser identificado nas ecografias pré-natais a partir da 16ª semana de gestação. Este diagnóstico é importante pois pode estar associado a outras anomalias congénitas (ex., displasia de desenvolvimento da anca). 

O tratamento deve ser iniciado o mais precocemente possível, logo após o nascimento, por um ortopedista. Consiste em sessões de manipulação do pé, imobilização com gesso, podendo eventualmente ser necessário o recurso à cirurgia, não só dos tecidos moles, mas também da parte óssea. O resultado final depende do diagnóstico atempado, do tratamento adequado, bem como do grau de deformidade e flexibilidade do pé. 

Por: Clara Machado, com a colaboração de Eduardo Almeida, Ortopedista Infantil do Centro Hospitalar do Porto

In: Educare

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