segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Terapias com células estaminais

Tratamento de Paralisia Cerebral com sangue do cordão umbilical, em contexto autólogo.

Aos 17 meses, Beatriz Góis, uma menina portuguesa com paralisia cerebral, foi submetida a uma terapia com as células estaminais do próprio sangue do cordão umbilical. A mostra de células estaminais estava criopreservada na Bebé Vida desde 2008 e foi utilizada pela Dra. Joanne Kurtzberg na Duke University, nos EUA.

Conversámos com os pais da Beatriz - Sandra Amorim e Ricardo Góis - que nos prestaram esclarecimentos sobre todo o processo que envolveu o tratamento da Beatriz com uma amostra de células estaminais do sangue do cordão umbilical criopreservada no banco privado de criopreservação, Bebé Vida.

Enquanto pais da Beatriz o que vos levou a tomar a decisão de avançar com esta terapia ainda experimental?

R: Quando nos foi apresentado o diagnóstico de paralisia cerebral, foi-nos explicado que o mesmo se traduzia na existência de lesões cerebrais com natureza permanente, dado que, o tecido cerebral não seria susceptível de regeneração. Foi-nos, ainda, explicada a capacidade única que o cérebro humano tem de se adaptar e de alterar a sua organização estrutural em resposta a estimulação nesse sentido, sendo que, a Ana Beatriz era muito pequenina e que a plasticidade cerebral é maior nos primeiros três anos de idade, devíamos apostar na estimulação precoce, uma vez que este era a único meio de eventual aquisição de algumas competências postas em causa devido às lesões sofridas. Face a estas explicações foi esse o caminho que tomámos, através da fisioterapia, estimulação sensorial/cognitiva e terapias psicomotoras.

Quando tivemos conhecimento desta terapia experimental e da possibilidade de através da infusão das próprias células estaminais recolhidas do cordão umbilical se poder conseguir a regeneração do tecido cerebral que foi danificado e depois de termos confirmado que todo o procedimento era seguro, praticamente isento de riscos, não hesitámos em fazê-la.

Como foi o processo de estabelecimento de contactos necessários para que a Beatriz se deslocasse para a Duke University, na Carolina do Norte (EUA)?

R: Tivemos conhecimento da terapia através de uma pesquisa na internet. Após o diagnóstico, tentámos sempre pesquisar novas terapias que pudessem ajudar a Beatriz a atingir mais e melhores competências, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida. Numa das pesquisas e, considerando que tínhamos feito a preservação das células do cordão umbilical, decidimos juntar estes descritores – paralisia cerebral e células estaminais – e foi assim que tivemos conhecimento do caso do menino Dallas Hextel e da terapia experimental que estava a ser levada a cabo na Duke University.

Após esta descoberta, procurámos o site da Duke e remetemos um e-mail no qual expusemos o caso da Beatriz com algumas informações clínicas e solicitámos informação sobre a possibilidade de nos candidatarmos à referida terapia. Após dois dias tínhamos um e-mail de resposta da própria Dra. Joanne Kurtzberg, que nos solicitava o envio vários relatórios médicos.

A partir deste momento, iniciou-se um processo de comunicação muito célere mediante correio electrónico, remetemos por via postal todos os relatórios solicitados e, passados cinco meses, estávamos a embarcar para os EUA.

Que casos tratados pela Dra. Joanne Kurtzberg já conheciam?

R: Como referimos, o primeiro caso com que tivemos contacto foi o do menino Dallas Hextel, depois na continuação das pesquisas, ficámos a conhecer os casos também surpreendentes da Chloé, Maia e Dylan.

Em que consistiu a terapia? Foi muito dolorosa?

R: A terapia consubstancia um procedimento muito simples, trata-se de uma infusão via intravenosa de um preparado com as células estaminais que tem a duração aproximada de quinze minutos, após o que se segue, a administração também intravenosa de soro durante duas horas.

Uma hora antes do tratamento, é administrado Tylenol e minutos antes da infusão foi administrado Benadryl e esteróides. Pese embora, a Beatriz tenha chorado durante os quinze minutos da infusão, não é um procedimento doloroso.

A terapia vai obrigar a menina a um internamento prolongado?

R: Não, de maneira nenhuma. A terapia é feita em regime de ambulatório, não carece de qualquer internamento, embora nos tivéssemos que deslocar dois dias ao hospital.

No primeiro dia, foi observada por uma enfermeira pediátrica que fez a revisão de todo o historial médico da Beatriz, e depois de verificar o peso, altura, perímetro cefálico, temperatura e pressão arterial, foi feita uma colheita de sangue. Foi-nos, ainda, explicado todo o procedimento relativo à terapia, os eventuais sintomas de alergia à substância na qual se encontram preservadas as células e como se procederia se tal viesse a acontecer e esclarecidas todas as dúvidas que apresentámos. O segundo dia foi o dia da realização da terapia. Após a alta, ficámos com os contactos da enfermeira pediátrica a quem ligámos no dia seguinte dando nota de como a Beatriz tinha passado a noite. Como não se verificou qualquer efeito adverso, nem teve qualquer complicação não foi necessário voltar ao hospital.

A terapia foi realizada no dia 20 de Abril. Já sentem melhorias? Qual o tempo estimado para a análise de resultados?

R: A terapia ainda é muito recente. Conforme nos foi explicado pela Dra. Joanne Kurtzberg, os resultados deverão começar a verificar-se no prazo de seis meses. Estaríamos, no entanto, a mentir se não disséssemos que já vimos algumas evoluções desde então, no entanto, da experiência das demais terapias realizadas, os resultados começarão a verificar-se após seis meses a um ano.

Sabemos que nestes casos, estas terapias são sempre muito onerosas. Os pais tiveram algum apoio?

R: A terapia é, de facto, onerosa. Contudo, não há dinheiro que pague a saúde da nossa filha e a possibilidade de lhe dar uma melhor qualidade de vida. No nosso caso, tivemos a preciosa ajuda da Bebé Vida Sorrisos que patrocinou os custos associados à terapia.

Haveria alguma possibilidade de tratamento desta criança com uma terapia similar se os pais não tivessem criopreservado as suas células estaminais?

R: Das pesquisas que efectuámos soubemos que se estão a realizar terapias similares em Pequim na Beike Biotech com recurso a um banco público, com todos os riscos associados ao facto de não ser uma infusão autóloga.

O que aconteceu depois de decidirem recorrer às células estaminais criopreservadas na Bebé Vida?

R: A Bebé Vida assumiu e realizou de forma muito eficiente e célere todos os procedimentos necessários para o transporte das células para os EUA, assumindo, ainda, todos os custos inerentes. Realizou directamente os necessários contactos com a Dra. Joanne Kurtzberg e duas semanas antes da terapia as células já estavam nos EUA.

O que vos levou a fazer a Criopreservação?

R: Quando decidimos fazer a criopreservação não fazíamos ideia, nem sequer queríamos pensar que alguma coisa de errada iria acontecer durante o parto ou mesmo durante a vida da nossa filha, contudo, dada a potencialidade das células estaminais entendemos que seria uma espécie de seguro de vida, como que o nosso primeiro presente para o futuro da Beatriz.

Caso voltem a ser pais, tencionam fazer novamente a criopreservação?

R: Sem dúvida que sim.

Que conselho dão aos pais que aguardam a chegada de um filho?

R: A Beatriz é a nossa primeira filha e, como todos os pais que aguardam o nascimento de um filho, queríamos e queremos dar-lhe o melhor e proporcionar-lhe todas as possibilidades para que seja uma criança saudável.

Com tudo o que nos aconteceu, concluímos que, por mais que façamos, não conseguimos controlar todos os factores inerentes ao nascimento dos nossos filhos e que, de facto, a saúde não está apenas nas nossas mãos, por isso, hoje em dia, o conselho que damos a todos os pais que aguardam a chegada de um filho é que se munam de todos os meios que estejam ao seu dispor prevendo por vezes um futuro que não é com toda a certeza o desejado mas que tem que estar também nos nossos planos.

A criopreservação das células estaminais do cordão umbilical face às suas grandes potencialidades, muitas delas ainda desconhecidas é, nesta fase, o melhor presente que podemos dar aos nossos filhos.


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