quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ratinhos cegos ganham visão nocturna, com transplantes de células

Uma equipa de cientistas conseguiu pôr ratinhos parcialmente cegos a ver à noite, através do transplante de dezenas de milhares de células. O trabalho, publicado nesta quarta-feira na edição online da revista Nature, é pioneiro e pode vir a ajudar pessoas cegas a recuperar a visão. 

Os olhos dos ratinhos são parecidos com os nossos. Têm dois tipos de células fotorreceptoras: os cones e os bastonetes. Os cones dão uma visão a cores muito nítida, mas precisam de bastante luz para funcionar. Quando o dia termina, os bastonetes tomam a liderança. Basta receberem apenas um fotão para se activarem, só que permitem uma visão menos definida e a preto e branco.

A equipa de Robin Ali, da University College de Londres (UCL), testou o transplante de bastonetes saudáveis, injectando-os em ratinhos geneticamente modificados, nos quais um gene tinha sido desactivado, tornando os bastonetes disfuncionais. Por isso, não tinham visão nocturna.

Ao contrário de experiências anteriores, desta vez os cientistas injectaram uma enorme quantidade de bastonetes. Das 200 mil células que tentaram transplantar, entre 20 mil e 30 mil agarraram-se à retina e conseguiram criar ligações nervosas, essenciais para o cérebro receber a informação exterior e produzir a visão. 

Passadas quatro a seis semanas, os bastonetes transplantados estavam a funcionar, o que permitiu aos cientistas testarem os ratinhos. No teste, eles conseguiram encontrar a saída certa de uma caixa com pouquíssima luz – um desafio em que antes, quando eram cegos, não eram bem-sucedidos.

“Pela primeira vez, mostrámos que as células fotorreceptoras podem integrar-se na retina com sucesso e melhorar verdadeiramente a visão. No futuro, temos esperança de conseguir replicar este sucesso com fotorreceptores derivados de células estaminais embrionárias, para desenvolver testes em humanos”, diz Robin Ali. Várias doenças humanas, que provocam cegueira, são causadas pela disfunção dos cones e bastonetes.

"Este artigo é um marco e as técnicas que são utilizadas aqui fazem parte de um grande salto a acontecer na medicina regenerativa", comenta Phil Luthert, director do Instituto de Oftalmologia da UCL. "Ainda vai ser necessário pelo menos mais cinco ou dez anos para pensarmos em fazer algo com os pacientes, apesar de neste momento estarmos a fazer um progresso significativo nesse sentido".

In: Público

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