domingo, 16 de dezembro de 2012

OS TRABALHOS DOS PROFESSORES

Se estão recordados, durante a passada semana alguma imprensa referiu a possibilidade de ser aumentada a carga lectiva dos docentes portugueses, informação que não foi desmentida por Nuno Crato.

O Expresso retomou a questão e com base no Relatório da OCDE Education at a Glance 2012, que várias vezes aqui tenho citado, refere que, considerando o número de horas em sala de aula por ano, a chamada componente lectiva, os professores portugueses trabalham mais horas que a média da OCDE e da UE (considerando apenas os 21 países). Esta situação verifica-se em todos os níveis de ensino. Por curiosidade, entre o 5º e o 12º apenas na Escócia os professores estão mais tempo na sala de aula.

Por outro lado, considerando todo o trabalho dos professores, incluindo aulas, correcção das avaliações, preparação de aula, acompanhamento de alunos, etc., os professores portugueses têem um volume de horas anuais abaixo da média, quer da OCDE, quer da UE a 21 países, sendo de referir que a maioria dos países tem horários base semanais de 40 horas e não as 35 actuais em Portugal. Deve, no entanto, afirmar-se que, como muito bem sabe quem por este universo circula, que os professores, na sua grande maioria, investem no seu trabalho muitas horas não contabilizadas.

Como é habitual de há muito, os circunstanciais ocupantes da 5 de Outubro fazem uma leitura selectiva dos dados de estudos e relatórios internacionais, ou seja, tudo parece muito interessante e positivo quando serve a sua agenda ou desvaloriza-se e questiona-se quando não vai ao encontro da agenda, veja-se, por exemplo, a forma como o MEC comentou os progressos dos alunos portugueses nos estudos internacionais recentemente conhecidos.

Parece evidente que em Portugal a questão de mais tempo lectivo para os professores só se entende numa perspectiva de política contabilística em que se transformou a política educativa. Na verdade, o aumento da componente lectiva tornaria dispensáveis uns milhares de docentes com a consequente redução de custos mas com prováveis custos severos em termos de qualidade.

Julgo que seria bem mais relevante apostar em mudanças na organização e funcionamento das escolas, com um acréscimo de autonomia e simplificação de processos que o insustentável caminho dos mega-agrupamentos não facilita, na desburocratização do trabalho dos professores, numa verdadeira reforma curricular que, no seu conjunto, optimizasse a componente não lectiva, designadamente a preparação e planificação de aulas e o acompanhamento e apoio a alunos.

Embora não seja este o espaço nem a forma ajustada para um tratamento adequado da questão, acontece que a própria comunicação social é "preguiçosa", por assim dizer, pois nem sempre, como fez o Expresso, busca a informação relevante para os debates. Assim, com alguma frequência aumenta-se o ruído e juízo de valor, intencional ou não, sobre os professores e as suas problemáticas. Devo dizer que neste ruído e ameaça à imagem dos docentes, incluo alguns discursos do MEC, bem como alguns discursos dos representantes dos professores e de alguns opinadores profissionais ignorantes mas com púlpito garantido, a que se junta uma imprensa nem sempre preparada e também com agendas que nem sempre são claras.

Vamos aguardar os próximos desenvolvimentos nesta metodologia clássica, um informação ainda difusa que se solta para avaliar reacções e depois uma decisão designada por consensual.

Os professores portugueses, com o cenário actual de alunos por turma e dimensão das escolas e agrupamentos, não precisam de trabalhar mais na sala de aula, poderão precisar de trabalhar melhor, sobretudo, fora da sala de aula no sentido de, por exemplo optimizar os apoios e acompanhamento dos alunos.

Mas isto carece de políticas educativas e não de políticas contabilísticas que sairão caras.

Texto de Zé Morgado

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