terça-feira, 30 de abril de 2013

“Vamos ver...”

Começamos maio. A crise tornou-se uma crosta na nossa pele tão persistente que já mal nos lembramos de como ela era antes de estar recoberta por tantas palavras, ameaças e desilusões. Continuamos a dizer “Vamos ver… “ Vamos ver…” na esperança que o que vamos ver seja melhor do que está agora. 

O Conselho Nacional de Educação acaba de publicar um relatório sobre a Educação em Portugal no ano 2012. Trata-se de um documento muito bem organizado, exaustivo mas não maçudo que nos fornece os dados necessários para discutir o “estado da educação”. Não é este o espaço indicado para uma análise do documento mas realçaria dois aspetos gerais que me parecem mais orientadores. 

Em primeiro lugar são inegáveis os progressos no nosso sistema educativo. Décadas de investimento em Educação obtiveram resultados que nos aproximam dos países que fazem parte da nossa geografia e cultura. Claro que as cicatrizes de um atraso estrutural na Educação continuam a fazer-se sentir: a baixa escolarização no secundário é sinal de uma educação que teve de eleger como prioridade a promoção da alfabetização, a universalização do ensino básico e a irradicação do abandono escolar. 

Em segundo lugar – e como muito bem apontou o Prof. Rui Canário numa intervenção sobre este tema – Portugal tem lutado contra o atraso com bons resultados e lutado contra a desigualdade com resultados bem piores. Ainda que haja alguns lampejos animadores (ref: o último relatório do PISA) Portugal continua a ser dos países mais desiguais nas oportunidades educativas. Entenda-se igualdade de oportunidades não do lado do que se dá mas do lado que se recebe. E aí Portugal continua a manifestar grandes carências. 

A questão da equidade (já repararam como a palavra penetrou como um incendio de verão no vocabulário dos nossos políticos?) é fundamental quando pensamos na educação dos alunos com NEE. Em larga medida a conceção dos programas de apoio para estes alunos alimenta-se de uma perspetiva de equidade e de inclusão. E por isso talvez estejamos tão preocupados: porque a Educação Especial sofre simultaneamente de várias crises que se somam: a económica, a da educação e da equidade e desigualdade. 

Por várias vezes a Pró – Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial tem abordado o Conselho Nacional de Educação com a intenção de suscitar um debate esclarecedor sobre a Educação Inclusiva e Especial em Portugal. Até agora sem resultados concretos. Um pouco desiludidos com esta omissão vamos dizendo “Vamos ver…”, “Vamos ver...” 

Por: David Rodrigues 
Presidente da Pró-Inclusão: ANDEE

In: Editorial da newsletter de 2ª quinzena (n.º58) de abril da Pró-Inclusão: ANDEE

1 comentário:

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    António.

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