quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A PERGUNTA

A Maria entrou na biblioteca da escola com o seu ar mais habitual, triste. Sentou-se a olhar para um livro que, desarrumado como ela, a esperava em cima de uma mesa. Não parecia estar a ler, antes a ler-se.

O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, de mansinho, sentou-se ao pé da Maria, sem dizer nada, a olhar para ela.

Olá Velho, estás a olhar para mim porquê?

Maria, estou a olhar para ti porque tens uns olhos bonitos e porque acho que me queres dizer alguma coisa, os teus olhos estão tristes.

É Velho, os olhos estão tristes porque eu estou triste e quando a gente fica triste, o corpo também fica.

E estás triste porquê?

Porque a Professora Joana não gosta de mim, como outras pessoas.

Eu gosto de ti Joana,

Eu sei Velho, mas a Professora Joana não e eu não sei porquê. Tu que já foste professor, podias saber porque ela não gosta de mim.

Vou pensar Maria, depois digo-te alguma coisa.

A Maria saiu. No dia seguinte, ao fim da manhã, voltou à biblioteca e, contrariamente ao costume, trazia os olhos a rirem-se.

Professor Velho, não precisas de pensar nada, a Professora Joana já gosta de mim. Hoje na aula, fez-me uma pergunta, eu até nem soube responder, mas ela já gosta de mim, faz-me perguntas. Quando a gente gosta das pessoas quer saber se elas aprendem e sabem, não é Velho?

Claro, Maria.

Texto de Zé Morgado

In: Atenta Inquietude

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